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Jornalismo afoga suas tristezas com as lágrimas da notícia.

Definitivamente o ano de 2019 tem sido muito severo com nós brasileiros, são tantos acontecimentos seguidos, que não sabemos de qual fonte o nosso organismo consegue produzir tantas lágrimas; e quão forte está sendo o coração de cada habitante deste País.

Já no mês de Janeiro a primeira grande tragédia, e com certeza até aqui a maior de todas, o rompimento da barragem de Brumadinho/MG, foram confirmados até o início desta matéria, 165 mortos, e para piorar a situação, as estatísticas apontam que dificilmente encontrarão todos os outros 160 ainda desaparecidos, com vida.

Se é uma tristeza sem limite para nós brasileiros e meros expectadores, imaginem como está sendo o dia a dia dos familiares dessas vítimas? Angústia e esperança andando de mãos dadas com a dor.

Oxalá as tristezas terminassem com esta tragédia, porém o exercício de viver nos provocam experiências diárias que nos proporcionam as mais variadas emoções em meros segundos, as vezes saímos de uma profunda tristeza para uma gigantesca alegria e vice-versa, e cada um vai se apoiando na própria fé para sobreviver com esses acontecimentos.

E foi numa dessas variações de sentimentos que na última semana, mais precisamente no dia 08/02/2019, outra tragédia destruiu os sonhos de 10 garotos, 10 famílias, de forma cruel e impiedosa, um incêndio na madrugada ceifou a vida de 10 jovens esportistas, que almejavam alcançar o profissionalismo no futebol, foi uma verdadeira “pancada” no já desacreditado futebol brasileiro, ultimamente mais conhecido pelos escândalos de seus dirigentes do que pela alegria e categoria nos gramados.

Esta dor foi absurdamente distribuída aos pais de outras, futuras promessas do esporte, que ensinam desde cedo, seus filhos a viverem sozinhos e conviver com outra família, que em comum possuem os mesmos sonhos. Mas neste caso especifico o preço da separação foi muito alto.

E notícias como essas chegam ao conhecimento de todos, graças ao trabalho de profissionais, que muitas vezes são mal interpretados devido a ânsia de levar e mostrar a notícia, nós jornalistas somos antes de tudo, seres humanos, temos família, temos sentimentos e sofremos calado ao reportar tantas tragédias, temos o compromisso de permanecermos isentos sem influenciar nas decisões do público.

Muitas vezes, alguns profissionais parecem frios, e porque não dizer até oportunistas, mas acreditem, somos treinados para não demonstrar nossos sentimentos e até as nossas opiniões, pois a notícia tem que ser levada pela sua verdade e doa a quem doer, não se altera uma notícia, porque os fatos jamais serão mudados.

Nossas tristezas literalmente são afogadas pelas lágrimas das notícias, e a maior prova disso, foram as reações do mais variados profissionais e mídias de notícias, que ontem 11/02/2019, de corações despedaçados encontraram forças para noticiarem a passagem de um dos mais admirados e premiados Jornalista do Brasil, Ricardo Boechat.

Aos 66 anos e cheio de vida, este argentino de nascimento e brasileiro por opção, teve a vida interrompida, num trágico acidente aéreo quando voltava de Campinas/SP, onde palestrou para representantes da indústria farmacêutica.

Boechat, foi homenageado por todos os amigos de profissão, que independente das mídias que atuam, foram unânimes em descrever as suas qualidades profissionais e pessoais. Miriam Leitão, afirmou que o seu lado humano era idêntico ao seu lado profissional, e certamente por trazer consigo esta verdade, o fez merecedor de tantos prêmios alcançados no decorrer dos 49 anos de sua vida profissional.

O Prêmio ESSO, um dos mais importantes para o profissional de comunicação no Brasil, ele ganhou 3 (três) vezes, além de recordista do Prêmio Comunique-se, ele foi o único a conquistá-lo em 3 categorias diferentes (Âncora de Rádio, Âncora de TV e Colunista de Notícias).

Ricardo Boechat, era tão verdadeiro em suas criticas e informações que até aqueles a quem ele criticava, estavam atônitos a notícia de sua passagem, entre eles o Presidente da República, Jair Bolsonaro, que fez questão de enviar suas condolências, o Governador de São Paulo Jorge Dória, que alegou ser amigo pessoal e admirador do humor ácido do jornalista, além do prefeito Bruno Covas, muitas vezes criticado, Bruno disse que as críticas do Ricardo sempre foram válidas, pois as que apontavam seus erros, eram usadas para corrigi-los e as que não lhe cabiam, serviam de diálogo e alerta para evita-los.

Talvez eu fique aqui buscando o conforto das palavras para acalentar o meu coração que foi exposto a tantas tragédias já no início deste ano de 2019, e com certeza não as encontrarei.

Como jornalista gostaria de deixar bem claro, que minhas lágrimas jamais ficaram ou ficarão ocultas, meu coração está amargurado e sedento de justiça nos casos de Brumadinho e do Ninho do Urubu, minhas palavras jamais definirão o tamanho da minha tristeza com a passagem de Ricardo Boechat, e de minhas memorias jamais se apagarão tantas provas de que somos humanos e sofremos como quaisquer mortais.

Por Arnaldo Almeida / Redação Portal Guia de Saloes.

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